Eu cuidarei muito bem dele, eu vou cuidar do seu jardim

 quadro-antonio-poteiro

Eram sete horas da manhã quando ele tocou o sino da nossa porta. Os cachorros latiram e eu lembrei que tínhamos marcado por telefone, na véspera. Era o jardineiro. Seu Brás. Meu marido pegou o cartão dele pela janela do carro, na saída do condomínio. Um carro antigo com o nome no vidro de trás, BRÁS JARDINEIRO. Demorei uns dias pra ligar. Ele entrou muito simpático, simples e bem humorado. Os pés e as unhas cor de terra mostravam que ele era realmente jardineiro e que não fazia isso com outras atividades. Ofereci um café e ele ficou parado na porta da casa, já dentro do jardim. Meu marido o convidou duas vezes pra entrar e ele acabou falando de um jeito quase pedindo, que queria ficar do lado de fora. Enfim eu saí com meu copo de café e sentei-me ao lado dele na mesa da varanda. Meu marido pediu licença e entrou pois viu que a conversa entre nós dois seria longa. Antes que ele entrasse seu Brás perguntou: “Você é japonês ou maranhense mesmo?”. O Ricardo gostou dele na hora e entrou rindo. Então seu Brás abriu várias revistas destas chiques, especializadas em jardinagem. Foi me mostrando apaixonadamente as plantas e me contando os nomes. As vezes eu lia e via que ele tinha uma pronúncia própria de algumas plantas. E, lado a lado, aquele senhor foi me prendendo na conversa. Depois de olharmos umas três revistas, ele se levantou como quem diz, me siga e vamos ver como está seu jardim. Começou dizendo que apesar de gramado ter uma grama bem bonita (Esmeralda) estava judiado. Aí começou a imaginar os canteiros e a ornamentação. Deu uma parada e falou: “Seria bom a senhora pegar uma caneta e papel pra ir anotando”. Imediatamente obedeci. Então fomos caminhando pelo jardim. Fui anotando, tantas caixinhas de Érika branca, tantas de Érika roxa, tantas de Capim Nerocálio, Buchinho, tantas mudas de Papiro, Arundina, Bromélia, Estrelizia, Pata de Elefante, Capim Moréia e outras mais. Ele ia andando, me mostrando nas revistas, me explicando qual era boa pra sombra, qual funcionava no sol, qual era forte e resistente e quais eram mais frágeis. Uma verdadeira aula e consultoria. No final ele me disse com muita honestidade que pra montar meu jardim como planejamos ele levaria três dias e depois uma vez por mês pra manter. Claro, isso eu molhando direitinho. E eu pensei , meu Deus, eu chamei este moço só pra marcar dele vir cortar a grama e aparar a minha hera. Meu intuito inicial era que ele fizesse um orçamento e a gente acertasse um preço mensal, já com o primeiro dia marcado. E ele ingenuamente me fez uma consultoria e montou comigo meu jardim, igual ou melhor que qualquer paisagista. Na saída fomos com ele até um viveiro próximo de casa. Com a lista na mão fomos fazendo o orçamento e escolhendo as plantas. Ao final, pasmem, deu quase dois mil reais. Saí com o orçamento na mão, as formas de pagamento e uma promessa de ligar pro seu Brás, para realizarmos nosso sonho. Vou fazer outros orçamentos com a lista na mão. E com certeza vou trazer seu Brás para cuidar do meu jardim. Nem que seja começando só pela grama. 

3 comentários sobre “Eu cuidarei muito bem dele, eu vou cuidar do seu jardim

  1. Não vejo a hora de conhecer essa casa… A propósito de jardins, aqui na Flórida a pitangueira é usada abundantemente em cercas vivas e os gringos não sabem que a fruta é comestível, no verão quando vamos pegar o Davi na escola (um dos poucos momentos em que andamos um pouco) vamos catando pitangas e dando explicações para os passantes que nos olham como se morrer no jardim deles e gerar um puta problema.

  2. Dá-lhe seu Brás!
    São os anjos da nossa vida!
    Beijo amiga, um texto que é a sua cara, escrito num fôlego só, e o que não te falta, nem nunca faltou, é fôlego, né? rsrsrs.
    Mil beijos, te amo muito, sua amiga-alma gêmea, Flá.

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