No INSS

 

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Tive que chegar no INSS muito cedo para conseguir pegar uma senha e resolver meu problema. Sentada aguardando minha vez, fiquei observando as pessoas que atendiam e as que estavam sendo atendidas. Os funcionários do INSS com cara de mau humor (todos eles, é impressionante, será que eles fazem um treinamento para serem assim?) e os clientes ou interessados sei lá, ansiosos, tentando explicar sua situação para alguém que não quer ouvir. Enfim chegou minha vez e eu me desliguei do ambiente e me concentrei no meu caso. Disse bom dia para o cara que me atendeu. Como eu já estava meio chocada com o desprezo de todos, falei um bom dia num tom que não deu para ele ignorar. Ele olhando para o lado e batendo repetidamente a ponta de uma caneta Bic na mesa, respondeu mal humorado, bom dia. Percebi um clima de, fala logo. Eu expliquei que tinha tentado no dia anterior tirar pela internet uma guia de um recibo para pagar, mas que como era de 2006, o novo site não aceitava mais. Falei também que liguei no 135 e a moça me informou que realmente não tinha mais como tirar pela internet e que eu deveria comparecer pessoalmente numa agência do INSS para conseguir resolver. Ele olhando pra ponta da caneta que continuava a bater na mesa, respondeu: não tem jeito não. Eu não entendi. O que que não tem jeito? Não tem jeito, ele falou de novo. Claro que tem jeito, eu rebati. Imaginei, se eu fosse um velhinho, humilde, ia ficar sem graça ou com medo, então ia levantar, agradecer e ir embora, como muitos fazem quando não entendem a situação. Mas, decidi ir a fundo. Pensei: se eu quero pagar um imposto antigo, claro que tem jeito, eu quero pagar, com multa, juros, mora, correção seja como for, preciso deste imposto pago, ou então o Estado vai me processar. Ele disse então: só tem um jeito de conseguir esta guia para pagar: se a senhora mandar um ofício. Ah, então tem jeito, falei. Mandar um ofício para quem? Pro INSS, ele respondeu pela primeira vez olhando pra mim e com uma cara impaciente. Sim, então eu falei, vamos passo a passo, por favor, me dê um papel. E fui perguntando, ofício em nome de quem, ele respondeu, qual conteúdo, ele falou resumidamente, entrego aonde, ele disse, protocola aonde, em tal lugar. Quando perguntei em quanto tempo tinha a resposta ele teve a cara de pau de dizer: não tem prazo não. Como não moço? Um mês, dois, três, pode passar de seis meses? Ele disse não, não passa de três meses. Ah então tem um prazo, conclui eu em voz alta para ele. Perguntei como eu saberia quando a guia estivesse pronta. Ele disse: não tem como saber. Eu perguntei já com ódio, eu vou ter que vir aqui todo dia olhar pra sua cara pra saber se está pronto? Ele disse, não, eles ligam. Eles quem moço? O INSS avisa ou se não ligarem a senhora procura pelo site. E por aí foi. Bom, minha vontade era levantar e mandar ele para aquele lugar, mas eu ia armar um bate boca, ia ser uma baixaria, por que eu estava irritada com tudo. Além do mais eu precisava descobrir o que fazer, arrancar todas as informações daquele louco para conseguir resolver meu problema. Não seria bem mais fácil para ele e para mim, depois de dar bom dia, ele chegar e me dizer: sim senhora, agora o INSS não libera mais pelo site, mas a senhora manda um ofício em nome do departamento tal, solicitando isso e isso, que no máximo em 90 dias alguém vai lhe retornar por telefone ou a senhora acompanha pela internet através de um procotolo que eu vou lhe dar. Em cinco minutos eu estaria liberada, ele também e o problema estaria resolvido. Resultado: sai de lá com indigestão daquele atendimento. E felizmente consegui resolver meu problema, porque se eu tivesse que voltar lá, talvez saísse presa.

Um comentário sobre “No INSS

  1. Muito bom o texto. Pena que é real isso. Loucura como essa galera trata os outros. Já passei por uma situação parecida, com a aposentadoria da minha mãe. Mas na primeira tentativa do servidor me ignorar, bati com as duas mãos abertas na mesa (medida de atenção para o cara) para que ele soubesse que o INSS poderia ser bagunçado, mas que o meu atendimento teria de ser bem gerenciado, o que de fato aconteceu. Saudade de você Joana. Gosto muito de ler seus textos. Café com pão de queijo…hummm

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