Olímpia

Botticelli

Não tem encanto nenhum. Olímpia não está para romantismo. Antes de sair de casa encarou-se no espelho compenetrada, como se olhasse friamente os olhos de outra pessoa. Um olhar seco, no fundo dos seus olhos. Dizia sem hesitar, para si mesma, acabou a brincadeira Olímpia. Ao seu redor uma sensação prática, lhe fazia sentir-se um tanto dura quase robótica.

Era necessário esse sentimento para que ela pudesse recomeçar. Trancou a porta de casa e saiu. A sensação de ser livre para escolher quem ela queria ser, lhe quebrou um pouco a rigidez. Sabendo que tinha liberdade, reconhecendo que todos os dias eram novos, Olímpia deu um franco sorriso, esperançoso, quase eufórico. Entrou no carro. Sentou-se ao banco do motorista e ali ficou ainda sem dar a partida.

Então Olímpia sentiu-se mais leve. Não havia mais nada que pudesse fazer, a não ser, enfim, cuidar de si. Abaixou o banco do carro de forma que ficasse quase deitada. Se estendeu aliviada por ninguém do lado de fora conseguir vê-la. Abriu todo o vidro, o que lhe proporcionou uma linda vista do céu azul. Entrava um vento tão fresco no carro… Olímpia se esticou olhando para o infinito e, lembrando que não tinha obrigações nos próximos quinze minutos, relaxou. Não ao ponto de dormir ou descansar. Mas ao ponto de conseguir sentir-se calma, renovada, com a certeza que podia ser outras coisas.

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