Era uma vez um jovem senegalês

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Thierno Guey era um jovem africano, senegalês. Magrelo e comprido. Tinha uma voz rouca e metálica, falava alto, quando ia nos visitar seu português com sotaque francês ecoava pelos cômodos. Sabíamos que o Guey tinha chegado. Bem humorado, muito carinhoso chamava os filhos dos meus pais de filhos. Ele chegava e perguntava para o adulto que abrisse a porta “cadê meus filhos?”. Dizia pra mim e pra minhas irmãs “Oi minhas filhas” e pro meu irmão “oi meu filho”. Em tom mesmo paternal. Gostávamos muito dele. Meu pai o conheceu na casa do jornalista Carlos Castelo Branco, foi apresentado por ele com honras da casa. Nas festas da Embaixada do Senegal e de outras embaixadas que ia com meus pais, de quem se tornou um grande amigo, era tratado como príncipe, eles contam. Falava seis idiomas, era muito culto, tinha mestrado e doutorado em Ciências Políticas e assessorou grandes nomes, dentre eles Gilberto Freire. Jogava futebol com laranja. Era divertido. Conversava em várias línguas hipnotizando as crianças. Crescemos com sua presença em nossa casa. Porém com o passar dos anos, fomos amadurecendo e acompanhando de perto a decadência do nosso príncipe africano. E então um dia veio a triste notícia de que Guey aparecera morto em Santa Tereza no Rio de Janeiro. Alguém nos privou de ter nosso amigo perto. Antes disso nosso excêntrico e intelectual Guey já andava incompreendido e perdido por aqui… perambulava pelos bares de Brasília falando diversas línguas e desperdiçando seu talento. Uma fase triste de sua vida, que não merece destaque, em vista de sua linda pessoa e biografia. Guey deixou muita saudade.

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