Viva as diferenças

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“Tamanho é documento. As crianças estão cada vez mais altas. E as baixinhas se sentem mais deslocadas. A boa notícia é que há tratamento para o crescimento abaixo da média.”   Prestem bem atenção ao teor desta matéria da revista Veja.  Será que a jornalista que escreveu isso é baixinha? Com que propriedade ela diz isso? Eu observo todo dia as crianças na escola dos meus filhos.  São crianças de todos os tipos.  Altas, baixas, negras, brancas, magras, gordinhas, japonesas, albinas, tem umas quatro de cadeirinha de rodas, umas de óculos (alguns daqueles bicolor), umas grandonas com jeito de bebezões, outras miudinhas, umas de cabelos desgrenhados, presos rápido por mães apressadas, outras bem arrumadinhas com muitas presilhas na cabeça, de todas as cores. Com bonés, sem bonés, meninos de cabelos maiores, moicanos, franjinhas, cabeças raspadas. Uns tímidos, outros correndo expansivos. São, como cada ser humano é: único. Elas brincam juntas e sem serem iguais. Na adolescência eles deverão procurar seus “tipos” para formarem suas tribos, o que é natural na idade. Mas enquanto pequenos, eles estão misturados e as diferenças são bem naturais aos olhos deles. A Época fez uma matéria sobre corpos biônicos. A capa era uma bela moça sorridente, de saia, sentada de pernas cruzadas, mostrando uma das pernas mecânica. Meu sobrinho viu a foto da capa lá em casa e disse para o pai “papai eu quero uma desta”. O pai explicou “não João, ela vive bem, está feliz, mas ainda é melhor ter a nossa própria perna”. Foi uma conversa até longa com ele e meus filhos, que estavam juntos e participaram. Vimos a inocência e a naturalidade como as crianças aceitam as diferenças. Bem, voltando à reportagem da Veja, aí vem esta moçoila e diz que as crianças baixinhas se sentem deslocadas e podem se tornar complexadas. Acho que talvez uma criança que está num clima de conflitos, brigas ou uma criança obesa sem energia pra correr, enfim, situações reais de problema, possam fazer uma criança se sentir deslocada. Mas não é natural da criança, baixinha ou altinha, se sentir menosprezada, a não ser que isto esteja sendo afirmado e aceito como verdade. Isso pode acontecer (e infelizmente acontece) com uma criança negra. Pois o racismo sim é uma realidade no Brasil. Mas fazer tratamento pra crescer, dar hormônio pra criança… ok, respeito quem faz… mas, gente, eu sou baixinha. Eu tenho um metro e cinquenta. Minha mãe tem três centímetros a menos que eu e minhas irmãs alguns poucos a mais. E se por algum motivo a gente se sentiu deslocada em algum momento de nossas vidas (o que pode acontecer com qualquer pessoa), com certeza não foi pela nossa altura. Eu por exemplo, me sinto super deslocada quando leio matérias como essa. Disse um dia Fernando Pessoa:  Sou do tamanho do que vejo e não do tamanho da minha altura.

4 comentários sobre “Viva as diferenças

  1. Olá querida. Tantas atrocidades ao redor do Globo e ainda estão se preocupando com altura? Amei o que você escreveu. Eu fiquei emocionado com o disse sobre os alunos. Beijos. Anthony

  2. rsrsrsrs.
    Não poderia haver final melhor para o texto.
    Eu também me sinto super deslocada com as pautas da Veja.
    Sobre a reportagem em questão, estariam eles de conluio com a indústria farmacêutica ou com o tal remédio-solução?
    Um beijo Jan!

  3. Ju, o jornalismo esta muito empobrecido, talvez pela facilidade de registro permitida pela tecnologia não venhamos mais a ter jornalistas cultos como os teus pais a não ser como exceção, o que é mesmo teu caso. Quanto a revista Veja e a qualquer outra onde vc haja opiniões de que discorde, não deixe de ler, a principal forma de nos enriquecermos e conhecer as opiniões contrárias as nossas, se só lemos o que concordamos na maior parte dos casos pouco ou nada acrescentamos ao nosso conhecimento ou capacidade de argumentar . Os teus adversários muitas vezes terão mais a te dizer que teus amigos, o resto é ler biblia.
    A proposito de baixinhos, so me dei conta de ser baixinho já marmanjo, quase adulto, realmente é um tolice …

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