Cuba. Por Joana.

Fui à Cuba sozinha quando eu tinha 20 anos para estudar roteiro em Los Baños, mas minha cabeça ficou tão doida que não fiz curso nenhum. Fiquei hospedada na casa de uma típica cubana no bairro de Santa Catalina, Havana. Acho que aprendi mais que se tivesse feito o curso durante o mês que fiquei lá, na casa da minha amiga cubana. Ela se chamava Lourdes e seu filho Jorge. Lourdes trabalhava no departamento de turismo do governo cubano e seu filho fazia faculdade de medicina, hoje já deve ser médico. Eles me buscaram no aeroporto no carro de um vizinho. Minha primeira impressão ao sair do aeroporto pode parecer chavão, mas foi uma cena com cara de Cuba. Um calor absurdo, várias pessoas juntas do lado de fora esperando os passageiros com as plaquinhas na mão e um cheiro de charuto no ar, dos comerciantes artesanais de fumo, que ficam ali fora numas mesinhas vendendo para os turistas. Saí meio perdida e fiquei procurando alguém com o meu nome escrito. Encontrei a Lourdes. Loura com os cabelos curtíssimos, descoloridos e quase raspados, olhos claros e bem queimada de sol. Bonita, magra, mas uma pele com cara de mal tratada, judiada. Carinhosa me abraçou e fomos para sua casa.

Ela morava em um bairro nos arredores de Havana, com prédios de cinco andares e escadas pelo lado de fora. O estacionamento parecia uma exposição de carros antigos, mas eram os carros de uso dos moradores. Embaixo da portaria tinha umas ovelhas dormindo, amarradas a um poste. Ao chegar em casa ela serviu o almoço. Me disse que era uma comida típica de Cuba. Eram pamonhas, idênticas as nossas. Eu ri e disse que  também era típico no Brasil e falei como chamávamos. Depois do almoço, abri minha mala e ingenuamente lhe entreguei um CD do Caetano Veloso. Ela, com jeito, me disse que não teria como ouvir, mas que deixaria de enfeite na estante para quando surgisse a oportunidade. Perguntei se ela não conhecia alguém que tivesse um aparelho de CD e ela disse que infelizmente não.

À noite fomos ver uma novela cubana na casa de um vizinho. Era engraçada até pela simplicidade, a estória se passava numa floresta com uma filha de um lenhador. A sala estava simplesmente lotada. Me sentei no canto, no chão ao lado de Lourdes. A porta da casa estava aberta e algumas pessoas assistiam em pé. Todos conversavam alegremente durante a novela, uns atentos assistiam em meio a falação. No intervalo comentaram comigo sobre a novela brasileira, Mulheres de Areia, que estava passando em Cuba. Queriam saber quem ficava com quem, se o Tonho da Lua morria e outros detalhes. E eu não lembrava de nada, nem quem era a boa, se era Ruth ou Raquel. Percebi durante os dias que passei ali, que as portas dos apartamentos ficavam todas abertas e que eles entravam um na casa do outro, a toda hora, como se o prédio realmente fosse uma casa só.

Sai com Lourdes algumas vezes para passear. Íamos de mobilete, seu meio de transporte. Certa vez fomos ao mercado semanal e voltamos com as sacolas penduradas ao guidon. Andar por Havana de mobilete foi a melhor forma de conhecer a cidade. A lambretinha vermelha andava devagar e Lourdes gentilmente fez vários passeios turísticos comigo, além de andar comigo pelas ruas, adentrando ruelas onde eu senti total o clima deles: muita gente nas portas, grupos conversando, povo alegre, sentado nas calçadas, andando entre carros bem antigos, diversas motos com aquele lugar do lado acoplado e bicicletas. As ruas lotadas de pessoas. Fui algumas vezes numa loja de uma amiga de Lourdes. Era como uma cabana destas de teto de palha, com cara de praia. Dentro tinha roupas confeccionadas em Cuba, sorvete cubano e outras coisinhas, tudo de lá. A gente ficava ali papeando.

Também saí com seu filho Jorge, de ônibus. Fomos até o centro da cidade, em um hotel, onde eu ia comprar uma calça jeans pra ele. No caminho até a parada do ônibus percebi que nos canteiros das ruas crianças e adolescentes jogavam beisebol. Ficamos mais de duas horas na parada. Perguntei que horas o ônibus passava e ele disse rindo que não tinha como saber, teríamos que esperar. Entramos num ônibus com cara de carro de exército, com as janelas pintadas. Lotado, as janelas abertas e as pessoas penduradas. No trajeto vi que eles usam caminhão também como transporte coletivo. Loucura. No hotel não deixaram o Jorge entrar. Mostrei meu passaporte e disse que ele estava comigo, mas o segurança disse que não podia. Fiquei sem graça e chateada, mas entrei sozinha. Ele ficou do lado de fora me olhando pela parede de vidro. Tentei ir rápido, achei a loja que eles falaram, comprei a calça jeans, depois passei ao lado de um velhinho que ficava sentado dentro do saguão do hotel, numa mesinha, fazendo charutos. Comprei duas caixas para dar de presente, passei numa outra lojinha, comprei algumas garrafas de rum e sai. Voltamos de táxi, um carro preto bem velho. Ao chegar em casa Jorge experimentou o presente. Chegou na sala e eu e a Lourdes nos espantamos: estava enorme! Ai que tristeza me deu. Que absurdo, por que ele não pôde entrar comigo para experimentar? Lourdes me conformou, disse que uma amiga ajustaria.

Apesar das dificuldades de se viver em Cuba, o que vi foi um povo que parecia feliz, mesmo com uma realidade absurdamente diferente. Me senti quase em outro planeta. Pessoas inteligentes, cultas e informadas, vivendo de forma bem simples. Na geladeira de Lourdes (que era bem antiga) só tinha banana, pimenta e açúcar. O pão de manhã eram torradas secas, sem manteiga nenhuma. Lá não havia, ela me disse. Fazia compra uma vez por semana no grande mercado público. Tinha o básico. Vez por outra faltava sal por um período, em outros faltavam outros produtos. O vaso sanitário não tinha a tampa. Se eu soubesse teria levado uma para ela. Fui despreparada. Não sabia que encontraria aquele cenário, vejam minha ingenuidade na época. Aliás, em todas as casas de cubanos que fui, percebi que os banheiros todos eram assim, com o vaso só na cerâmica. O banho era frio. No banheiro reparei que só tinha uma pedra de sabão, nada de sabonete ou shampoo. Um cano era o chuveiro. Uma vez por semana faltava luz. Lourdes era muito gentil, a noite perguntava se eu queria que ela esquentasse uma água para eu tomar banho. Mas o calor era tanto que não havia necessidade.

Fui na Casa da Música, ou Palácio da Música, não me lembro. Muito legal, um lugar lindo, prédio grande antigo. Fui com Jorge e sua namorada. Teve um show de Salsa com várias bandas, começando por uma formada por crianças pequenininhas, tocando percussão. Uma graça. Tomamos rum, dançamos, foi maravilhoso. Nos dias que estive lá, comemos bem. Levava eles para almoçar fora, nos famosos Paladares, são famílias que cozinham em suas casas, algumas servem pratos chiquérrimos por preços baixos, comi lagosta e outras delícias. Também conheci uma cidadezinha no interior, San Antonio de Los Bãnos, onde fica a Escola de Cinema. Alto nível. Gente do mundo todo. Na verdade eu tinha ido a Cuba para fazer um curso de um mês em Los Bãnos, mas acabei resolvendo voltar com a Lourdes para Havana.

No dia de voltar para o Brasil, fui embora de Cuba quase só com a roupa do corpo. Deixei tudo para Lourdes. Roupas, perfume, shampoo, cremes, tinta de cabelo e tudo que achei que valia à pena deixar. Para mim foi uma viagem inesquecível, que mudou minha cabeça. Eu era quase uma adolescente ainda e essa viagem foi decisiva pra consolidar meus valores humanitários. Não fiquei chocada ou com raiva do governo Cubano. Senti claramente o quanto eles amavam o Fidel e vi que ninguém falava mal dele. Todo mundo sabe como ficavam as ruas quando ele discursava. Tudo parava. As pessoas se aglomeravam aonde tivesse uma televisão. Eles o amavam. Deve haver, um bom motivo, não? Quem viveu lá antes da entrada de Fidel, lembra que o país tinha se transformado em um parque de diversões dos EUA. Por isso eu acho que é difícil criticar Cuba. 

Parti com saudade e gostaria de voltar. Não achei triste nem saí de lá criticando nada do que vi. Juro. Não sei explicar ao certo o porquê. O sistema de saúde é muito bom. Não existem analfabetos, enfim, mas não foi por isso que eu sai com vontade de defender Cuba. Algo subjetivo mexeu comigo. Até hoje me emociono quando assisto o documentário “Buena Vista Social Club” e vejo aquelas imagens das ruas de Havana, como uma cidade pós-guerra, tudo antigo e destruído, em contraste com os carros de milionários.

A felicidade deles é intrigante. E verdadeira. Mesmo sabendo que seus carros velhos, suas geladeira, nada é no nome deles (tudo é do governo), mesmo sabendo que um médico ganha o equivalente a 20 dólares, mesmo vendo um cenário que as vezes parece de filme de época. Mesmo vendo que eles guardam qualquer pedacinho de papel pra usar, porque lá falta tudo. Mesmo assim não dá pena nem revolta. Estando lá a gente entende. Não sei explicar como. Essa viagem me trouxe uma visão romântica sobre Cuba? Não sei. Só sei que foi assim, como dizia João Grilo.

22 comentários sobre “Cuba. Por Joana.

  1. Democracia seria ir a Mac e depois ver um filme no cine 3d?Hahahha lá existe democracia sim!! apenas existe um grande problema econômico, que poderia ser minimizado sem o embargo dos “democráticos”EUA!!Agora eles estão muito mais próximos de resolver o problema deles, econômico, do que nós os nossos, tudo!!! Pensem nisso!!! abrçs

  2. Adorei o comentário….também eu vivi lá por razões de saude (21 meses)de um filho meu…não tive oportunidade de visistar museus etc…mas contactei muito com a parte humana dos cubanos ….mostram-se felizes….com muitas dificuldades ,mas muito informados ,educados e muito humanos …eu adorei ….vivia lá para sempre …já regressei a portugal á 5 anos mas o meu pensamento estará sempre lá até ao fim dos meus dias ….além de que meu filho recuperou muita qualidade de vida -foi vegetal.
    um beijo para ti e para todos os cubanos!!!!!!!!

  3. Joana, gostei muito desse blog. A revolucao na Cuba trouxe muitas coisas positivas, mas nao evoluiu de acordo com as mudancas que ocorreram no mundo nesse periodo.
    As pessoas na Europa ocidental, America do Norte, no Brasil e outros lugares que louvam o regime Cubano ate o ceu, precisam de responder nessa pergunta:
    Sera que eles trocariam a vida atual com uma nova vida na Cuba?

    1. Sem sombra de duvida! Mas vale salentar q a culpa do atraso tecnologico em Cuba, não somente é culpa do governo cubano e sim do bloqueio economico criado pelos E.U.A.

  4. Obrigado por escrever, já li muito sobre a história cubana e o relato de sua experiência acrescentou bastante pra mim. Sinto que para os cubanos foi diferente pois eles conquistaram a independência lutando. As questões de Governo são bem mais amplas do que a imagem atual pode mostrar…Pensam os ditos “democratas”.. Cuba está atrasado, todos são miseráveis,eles vivem uma ditadura e tudo isso que escutamos o fantástico falar. Tem de estudar o passado de Cuba para entender o estágio atual. No Brasil milhares de pessoas tem privações muito piores, acho que essa frase do Fidel da pra entender o que quero dizer. “Hoje milhões de pessoas dormirão nas ruas, nenhuma é cubana.”

  5. Olá,Joana.

    Obrigada por compartilhar essa experiência linda e tocante. Estou indo para Cuba em uma semana e espero me emocionar como me emocionei lendo seu relato.

    Um abraço,

    Ana.

  6. Juanita, mi hermosa sobrinha
    Realmente o povo cubano é feliz. Os haitianos também. Viu aquele garoto de uns 10 anos que saiu dos escombros do terremoto após duas semanas soterrado, faminto e sob o pavor dos gemidos e o cheiro fétido dos corpos putrefatos? O menino , arrancado de sob as pedras, abriu um sorriso gigantesco. Sorria com a boca, com os olhos, com os braços abertos, mais abertos que os do Cristo carioca.
    Em muitos países africanos também – mesmo na miséria, esquálidos, vitimados pela aids e mil outras doenças terríveis, mesmo vivendo sob ditaduras tirânicas o povo é feliz.
    Na Bahia, nem se fala. É uma felicidade lisérgica, eterna e incurável e que está entranhada no ar com o cheiro de dendê. E quando você olha em volta – uma cidade totalmente favelizada com os negros morando em casebres sobrepostos, mal equlibrados em terra podre que qualquer chuvinha derrete. Mas o trio elétrico passa e os brancos jogam confetes do alto de seus luxuosos arranha-céus. E todo dia é dia de festa e de agradecer ao Todo Poderoso por ter nascido na melhor e mais bonita terra do mundo – a Bahia.
    Felicidade para mim é um mistério. Talvez seja uma defesa do psiquismo diante da adversidade. Sei lá.
    Quanto a Fidel, a única certeza que tenho é que depois dele o povo continuará feliz e certamente mais rico, mais livre , podendo entrar nos hotéis e praias de onde são expulsos até hoje. Espero que as cadeias não detenham mais pessoas que simplesmente pensam diferente. Espero que possam votar e não simplesmente se submeter aos sucessores consanguíneos dos Castro.
    Quem diria que o socialismo iria ressucitar a monarquia?
    Espero que ninguém mais morra tentando fugir agarrado a rodas de aviões ou agarrados a barcos improvisados de pneus e madeira velha. Que todos possam ir e vir .
    Fidel não sera esquecido. Com certeza entrará para a história como mais um patético ditador latino americano com seus unifomes camuflados e tênis importado. Fidel é a única coisa triste em Cuba.
    Beijos, mi Juanita e viva Cuba Libre!!!!

  7. Cuba não é uma “boa intenção” que deu errado. O comunismo é a pior doença que já acometeu a humanidade. Fidel e Che são assassinos e culpados pela destruição de um país inteiro.

    Devem ser julgados como criminosos que foram (postumamente no caso do Che) e seus nomes colocados no panteão dos maiores inimigos da humanidade, ao lado de gente como Stalin, Hitler e Lenin.

  8. Fui á Cuba este ano em 2010.

    Varadero e Havana

    Muito legal , pessoal muito culto mesmo e uma simplicidade…

    fora que a limpeza das ruas …bem diferente de sao paulo rs

    Vale a pena ir la

    abcs

  9. Joana, que legal ter lido o que vc escreveu sobre Cuba, pq, foi exatamente isso que eu senti qdo estive lá em 2001. Passei 2 meses lá e ter conhecido Cuba serviu para mudar a minha vida. Ver aquela gente tão feliz e alegre viver a vida que lhe cabe sem perder a esperança, me fez pensar sobre o quanto nos enganamos com as coisas efémeras e desnecessárias.
    Estive várias vezes lá e pretendo continuar voltando neste país tão caloroso e de pessoas tão guerreiras.

    Um beijo

  10. O que é liberdade????Será que o povo cubano trocaria modo de viver deles por moradia nas favelas do Brasil só para ter liberdade??? Porque nas favelas? Porque as favelas são para o negros, e os CUbanos na sua maioria são descendente de escravos, e qual a liberdade dos brasileiros que moram nas favelas? A única liberdade que eles tem é de ser e descriminados pelos ricos da alta sociedade. Tem um destes comentários, que fala de amigo cubano que é medico e que ele esta rico com a sua clinica, só que este medico teve o seu estudo totalmente gratuito pago pelo suor de todos os cubanos, eu me orgulho é daqueles medico que estão trabalhando em vários outros paises pobres onde recebe um salário e repassa para o estado de Cuba por entender que ele é o que é devido a revolução, pois antes da revolução não tinha nem faculdade de medicina.
    Medico em cuba são para salvar vidas e não ficar ricos.

  11. Olá!!

    Muito bom ouvir sua história.
    Estou indo para Cuba no proximo mês.
    Vc tem o contato do lugar onde ficou?

    Obrigada!!

  12. Oi…
    Me emocionei lendo teu texto. Muito rico em detalhes que fizeram a diferença da tua viagem…
    Conseguistes nos passar todo o sentimento…
    Simplesmente amei, amei…
    Beijos.

  13. Alias voce ja reparou o por que do nome Cuba Libre?
    COCA COLA e Rum… Quer um produto mais americano que a Coca Cola?

  14. Jujuba…
    Um texto sobre Cuba nunca me foi tao intimo como esse, porque aqui moram moram os nao amam nem um pouco o Fidel… Pergunte a Sunen (rsrsrs) Mas concordo com a importancia historica do Fidel, ele foi sim muito importe.
    Mas assim como os Americanos erraram com o Bush e nos com o Lula, acho que chegou a hora de mudar e dar oportunidade a essas pessoas cultas e muito informadas de viverem dignamente com liberdade de pensamento. Ate porque la ninguem pode falar nada contra o Fidel.
    Conheci um medico cubano aqui o Vicente, uma pessoa facinante, esta aqui a 13 anos, fala um ingles assim assim, mas eh muito competente abriu uma clinica com a mulher e esta rico, com uma bela casa, barco e carros mas ao falar de Cuba, chorava, pela falta de tudo, pela casa caindo aos pedacos em que morava, pela familia, pelas poucas oportunidades a todos.
    A Sunen tao pouco gosta de tocar no assunto se resume a dizer “a my encanta mucho mas my vida aqui”.

    Que tudo isso mude e vamos comemorar com CUBA LIBRE!
    beijos
    Gabi

  15. Joana,

    Intrigante pra mim são as diversas versões sobre Cuba. Vários metem o pau, vários louvam aos céus.
    Sobre essa falta de tudo, imagina o que é visitar a parte pobre da Índia ou o Haiti, ou mesmo Nova Orleans (que nem educação e saúde são comparáveis às de cuba).
    A carga negativa imposta pela democracia americana (que é a mais presente em nossa cultura) sobre o socialismo ou o comunismo está impregnado no imaginário coletivo brasileiro, de forma que mesmo quem é a favor do regime de Fidel, reconhece a necessidade de democratização da Ilha. Pra mim, a falta de liberdade individual é um dos maiores crimes cometidos pelos governos, tanto o socialista cubano quanto qualquer um que se diz democrático.

    bj

    João Gollo

    1. Oi Golinho

      Adorei seu comentário. Realmente Cuba recebe uma carga muito negativa e o Fidel no fim das contas se queimou. Não sabemos o que é viver sem liberdade não é?

      Espero que o país consiga isso, mas sem regredir nas outras coisas. Uma abertura é muitíssimo importante para lá agora, mas amedronta eles e quem gosta de Cuba. Não é?

      Beijão
      Joana

  16. Lindo o texto, e igualmente lindo o texto do seu pai. Eu adoro essa história da pamonha, sempre conto e por vezes me pego rindo sozinha dela…
    A simplicidade na vida é algo que não preço, é incrível como precisamos de tão pouco e por vezes penso o quanto nossa vida seria diferente se tivéssemos um outro sistema. Teríamos por certo outros valores. Pensaríamos mais em estudar, em nos aprofundar em assuntos, e sem dúvida seríamos mais felizes.
    Eu tive um execelente professor de francês na Puc, o Sérgio Luiz, (ele era uspiano) e me recordo dele dizer que quando esteve em Cuba, ele ficou tão impressionado com o francês dos caras, que ele disse: cara, vocês são franceses! Ele disse que em nenhum lugar do mundo ele viu professores de francês falando daquele jeito.
    Claro que esse sistema pagou um preço alto, mas não há como minimizar esse e tantos outros méritos do Fidel. A revolução que aconteceu ali foi talvez a mais expressiva do mundo moderno. O que aquele país representava, sobretudo aos olhos americanos e o que ele é hoje, gente, será se as pessoas não percebem isso? Será se elas acham que eles devem simplesmente mudar tudo de repente, uma estrutura que se consistuiu durante tantos anos? Claro que a abertura será feita e estou certa de que aí assim eles estarão mais preparados. Asssim espero de coração.
    Beijo minha amiga linda.
    Amo você!

  17. Seu depoimento sobre Havana é emocionante. Penso exatamente como você sobre Cuba de hoje, principalmente na necessidade imediata de democratizar o país. Mas respeitando a vontade do povo e sem ingerências externas, como houve no Iraque. Essa posição minha não é uma guinada para a direita (o que nunca ocorrerá, tenho certeza). Continuo fiel aos meus princípios e alguns ensinamentos absorvidos na dialética marxista como, por exemplo, não raciocinar em cima de hipóteses (posição que às vezes irrita a família).

    Como diz o velho Eça, conheço os meus autores (O mandarim). Não abro o jogo para evitar querelas. E aceito tranquilamente e com certa nostalgia, o epíteto de “velho comunista” (embora não concorde com o “velho”). Mas vou lhe confessar uma coisa: o comunismo com que sonhei, não tinha lugar para Stalin, Tito e outros déspotas. Nem para o Fidel de hoje, senil e arrasado, encarnando as caricaturas descrita nos romances de Gabriel Garcia Marques, sobre os ditadores latino-americanos.

    Por isso prefiro lembrá-lo novo, saindo de Sierra Maestra para derrubar o ditador Batista e encarnando o sonho de mudanças, de um mundo mais justo e fraternal, pelos jovens do meu tempo. Um tempo em que não havia Internet e a globalização só existia nos livros de Marcuse e Mac Luan onde as informações nos chegavam sempre manipuladas pelos gringos (pelas agências como a United Prees, World Press e outras que tais) ou dos órgãos oficias da URSS, onde a editoria era feita pela KGB, sem falar de Gulag e outros spas ideológicos. Por isso, Joaninha, não tinhamos noção exata e verdadeira do que se passava no mundo.

    Mas hoje os tempos são outros, mesmo para o comunismo. Os chineses que o digam. Somente Cuba (vale dizer Fidel), continua arraigada a um passado delirante. Por isso eu prefiro lembrar do comunismo como sonhei um dia, no velho Partidão e no CPC da minha juventude. Justo e fraternal, sem espaço para títeres e ditadores. Ledo engano.

    Um beijo

  18. eu tento, mas não consigo achar justo forçar uma população inteira a “parar no tempo”. os ideais são lindos, mas talvez utópicos! tenho vontade de conhecer Cuba. uma semaninha só. talvez lá, como vc, eu entenda mais como funciona. por enquanto, meu desejo é o mesmo do teu pai: democratização! =)

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