O Tira e Põe do Pinto

Marc Chagall

A filha ia casar e depois de ir ao cartório levar alguns documentos que faltavam, chegou em casa desconfiada. Falou baixo de canto de boca com a mãe. “Tive que tirar o Pinto do meu nome. Eles disseram que podia colocar um sobrenome do marido mas eu achei que ia ficar muito grande e tirei o Pinto, que eu nem gosto muito”.

A mãe com a voz suave e tensa, “ih seu pai não vai gostar nada disso, você conta pra ele, não quero nem me meter”. De repente o pai entrou na sala e pegou o final da conversa. As duas arregalaram os olhos quando ele falou, o que houve? Já não era possível disfarçar e o nervoso fez com que elas rissem.

A mãe tentou apaziguar,” nada, não foi nada, é que o cartório não aceitou seis nomes então ela teve que tirar o seu Pinto”. O pai ficou ofendido, quase que alterado, “mas por que logo o meu? Sacanagem!”. A mãe ponderou, “mas você nem usa o Pinto, por que essa questão toda de não deixar tirar ele?”. Ele nem se deu ao trabalho de responder, fechou a cara e saiu da sala.

A mãe analisou, “teu pai vai ficar chateado o resto da vida lembrando e falando do Pinto. É melhor você voltar no cartório e pedir pra colocar ele de volta.” As duas rindo muito decidiram que fariam isso. Mas a filha exigiu, “você vai comigo e fala lá, eu já estou com vergonha de ficar dando trabalho nesse cartório”.

E assim fizeram. No dia seguinte entraram juntas, quase que ensaiadas, deram bom dia, e já tão ansiosas foram fazendo tudo diferente do combinado. A filha disse, “o senhor lembra de mim né, estive aqui ontem”. Ele, “sim”. A mãe foi atropelando, “como o senhor chama?” Mal ouviu a resposta e já foi desabafando, “então Marcelo, minha filha deu entrada no processo de casamento e decidiu tirar o Pinto mas o pai dela não gostou nada, pois o Pinto era dele. Viemos aqui com vergonha pedir pro senhor colocar o Pinto de novo”.

Marcelo que era o escrivão, ficou um tempo pensativo e disse, “olha o processo já está na mesa do juiz”. A mãe quase se desesperou, “Marcelo, meu marido está de cara fechada em casa por causa do Pinto, você precisa falar com o juiz”. O escrivão encerrou o assunto dizendo que ia tentar mas não ia prometer.

Para sorte delas e azar de Marcelo, a mãe trabalhava no prédio ao lado do cartório. Todos os dias passava na porta e dava um tchau e ele respondia com olhar ou gestos que ainda, nada. Diz a mãe que ela já estava manjada ali. Enfim, após uns três ou quatro dias nessa peleja, ela passou de novo por lá na saída do expediente, parou da porta do cartório e eis que Marcelo gritou espontâneo e feliz, lá da mesa dele: “consegui!! botei o Pinto!!!!”

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